Viagem 2010 - Algumas cidades da Síria
A minha aventura síria começa, na verdade, em Beirute, na estação rodoviária de Charles Helou. Levanto-me cedo para apanhar o primeiro autocarro para Damasco. Entro na zona das ligações internacionais e sou abordado por inúmeras pessoas perguntando-me para onde vou. Procuro a bilheteira dos autocarros para Damasco e está tudo em árabe. Não entendo nada do está escrito. Lá me indicam o sítio. Peço o bilhete e eles respondem-me se tenho o visto para a Síria. Digo-lhes que não! Respondem-me “no visa, go minibus”. Tento dizer-lhes que sou português, que não existe embaixada da Síria em Portugal e por isso, não haverá problema de o obter na fronteira. Ao meu lado está o Juan António, espanhol de Alicante que está a fazer um curso de língua árabe em Damasco e aproveitou o fim de semana para visitar Beirute. Como não tinha solicitado o visto para a Síria, com múltiplas entradas, estava na mesma situação que eu, tinha de o obter na fronteira. Apesar de muita insistência, não nos vendem os bilhetes, utilizando o argumento que vai demorar muito a tratar do visto e os restantes passageiros não poderiam ficar à nossa espera. Simultaneamente, empurram-nos para o minibus, não nos restando outra alternativa. O problemas é que nos fazem pagar um pouco mais do que no autocarro (+ 4 €). Não havendo outra opção lá entramos no minibus. O condutor movimenta-se com ar demasiado stressado, procurando angariar pessoas (+ 9), para se por a andar. Esperamos meia hora e o minibus lá fica cheio. Durante o trajeto o condutor mistura a atenção da condução com a contagem do dinheiro dos passageiros (português, espanhol, nigerianos, libaneses e sírios). Chegamos à fronteira e tudo é muito rápido. Demoro apenas 15 minutos para tratar do visto e receber o carimbo de entrada. O argumento utilizado era, obviamente, inválido e foi uma maneira indelicada de extorquir dinheiro a estrangeiros. Passadas três horas e meia, chego ao centro de Damasco.
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Damasco é uma cidade completamente diferente de Beirute. Esta sim, um burgo à boa maneira árabe com contadores de histórias, souqs e casas antigas com pátios maravilhosamente decorados. Dimashq em árabe ou Ash-Sham para os damacenses, é uma das mais antigas cidades do mundo, continuamente habitadas. Escavações realizadas na parte velha da cidade, sugerem que é habitada desde o terceiro milénio antes de Cristo. Por isso, lanço-me, sem mais demoras para o coração da cidade – a cidade velha, para sentir o pulsar das suas estreitas artérias cuja arquitetura se mantém intocável há milhares de anos. Durante este tempo a cidade foi, naturalmente, cobiçada pelos principais impérios. Os últimos, foram o romano e o omíada, dividindo a cidade velha nos bairros cristão e muçulmano. Desde a conquista de Damasco pelos muçulmanos Omíadas, as duas religiões têm convivido sem problemas de espécie alguma. Contudo, o traço forte na arquitetura da cidade é o muçulmano com ruas estreitas e os edifícios a quase se tocarem nos pisos de cima.
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Vagueio sem rumo definido, pelos souqs Medhat Pasha e al-Hamidia, entre peregrinos iranianos, beduínos nómadas e sírios. Deixo-me envolver calmamente pelos sons de música e conversas árabes, pelas diferentes tonalidades de lindas carpetes e tapetes a fazer lembrar as mil e uma noites, pelos os cheiros intensos dos perfumes e especiarias e pelos trabalhos artísticos de artesãos de madeira e ferro. Fico maravilhado a observar atentamente a forma hábil dos árabes negociarem. As correntes da emoção que sinto ao pisar chão milenar, fazem-me desaguar na mesquita Omíada. Esta é a principal estrutura religiosa de toda a Síria e uma das mais sagradas de todo o mundo muçulmano. No entanto, antes de ser mesquita, foi uma igreja, desempenhando as duas funções, por algum tempo. Antes de ser igreja, foi o Templo de Jupiter. Antes disto, foi o Templo de Zeus e antes ainda, foi o templo de Ishtar. A mesquita é realmente muito bonita, mas o que me chama mais a atenção é o túmulo de São João Batista (profeta Iehia, para os muçulmanos) e o túmulo de Hussein, filho de Ali e neto do profeta Maomé, que atraí muitos xiitas (maioritariamente iranianos) peregrinos entoando cânticos, e realizando movimentos de devoção a lembrar os sacrifícios corporais realizados pelos cristãos, andando de joelhos para pagar uma promessa. Visito igualmente a fascinante, mesquita xiita, Saiída Ruqaya, filha de Hussein e bisneta do profeta. Trata-se duma mesquita recente, com aproximadamente 30 anos, mas é à semelhança do santuário de Hussein, o principal local de peregrinação xiita em Damasco.
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Um dos locais que queria visitar na Síria era Bosra, no sul do país. Bosra foi a capital do império nabateu durante o primeiro século antes de Cristo, depois de terem abandonado Petra e foi a capital do império romano da província da Arábia a partir do ano 106 depois de Cristo. Sou atraído pela possibilidade de visitar um dos teatros romanos mais bem preservados, existentes em todo o mundo. Construído no início do segundo século, albergava cerca de 9000 pessoas (6000 sentadas e 300 de pé). Olho atentamente as bancadas e apercebo-me da forma similar como os estádios de hoje são construídos. Passado tanto tempo, mantém-se ainda, uma estrutura semelhante na construção deste tipo de espaços públicos. Passeio-me igualmente pelos restos da velha cidade romana que cobria cerca de 1 Km quadrado. Caminho pela velha estrada romana e visito os restos do que foram os banhos públicos, fonte de água natural, mercado, hipódromo, palácio e ainda aquilo que se acredita ter sido um santuário a céu aberto – Kalibe. Aproximo-me do arco nabateu, estrutura que marcava o limite da cidade romana e tratava-se, provavelmente, da porta de entrada duma residência nabantina.
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Terceiro e último dia na Síria, escolho dois locais próximos de Damasco para visitar – Maaloula e Sednaia. Levanto-me, como habitualmente, cedo e dirijo-me para a estação de minibus al-Zablatania. O Minibus só arranca quando está completamente cheio. Espero meia hora e embarcam comigo, nesta aventura cristã em terras muçulmanas, duas espanholas de Barcelona, Ana e Elisabete e um casal de gregos de seu nome Catarina e Nicolas. Todos queremos fazer o mesmo trajeto ou seja, Maaloula e Sednaia. Chegamos a Maaloula, terra onde ainda hoje se fala Aramaico, a língua falada por Jesus Cristo e dirigimo-nos para o convento ortodoxo de Santa Tecla, construído nas encostas duma falésia. Tecla foi discípula de São Paulo e uma das primeiras mártires cristãs. Saímos e percorremos o caminho de Santa Tecla, uma passagem muito estreita por entre a falésia fazendo lembrar de forma muito modesta, a mundialmente famosa entrada em Petra. O caminho leva-nos à igreja de São Sérgio, construída no ano de 325 e uma das mais antigas do mundo. Nesta igreja conhecemos uma rapariga autóctone, muito simpática - Rita, que se disponibiliza a fazer uma oração em Aramaico. Esta língua é uma das mais antigas do mundo continuamente falada, tendo atingido o seu auge por volta de 500 antes de Cristo. O Aramaico é a língua que está na base do Sírio, do Árabe e do Hebreu. Combinamos com um senhor o preço de táxi para nos levar a Sednaia. Na verdade não se tratava dum táxi, mas sim, do carro do próprio e serviu para ganhar um dinheirinho extra. Chegamos ao convento ortodoxo de nossa de Sednaia, construído no alto dum enorme rochedo a fazer lembrar uma fortaleza. Trata-se dum dos mais importante lugares de peregrinação cristã, no Médio Oriente, devido a um retrato de Nossa Senhora, magnificamente pintado por São Lucas. Pelo facto de se atribuir a este ícone todo o tipo de milagres, chegou a ser considerado, durante a época das cruzadas, como o segundo santuário cristão mais importante a seguir a Jerusalém.
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