Viagem 2010 - Alguns locais da Jordânia

De Damasco a Amã distam cerca de 250 Km. As estradas são razoavelmente boas, apesar de se tratar de países subdesenvolvidos. Contudo, nunca esperei fazer uma viagem de 6 horas entre as duas capitais. Quando comprei o bilhete disseram-me que seria, no máximo, quatro horas de viajem. Em Damasco passo quase uma hora para nos deslocarmos entre as duas principais estações rodoviárias, por entre um trânsito terrivelmente desorganizado. Nessa estação entram, sobretudo, mulheres acompanhadas pelos seus filhos. No países árabes, cabe às mulheres a função exclusiva, de cuidarem dos filhos, à semelhança do que ainda acontece com muitas famílias portuguesas. Nas fronteiras (dos dois países), mais duas horas e meia por entre processos imensamente burocráticos. À saída da Síria, junto-me a uma fila para pagar a taxa de saída. De seguida desloco-me para outro guiché para carimbar a saída no passaporte. Mais uns metros à frente, em território jordano, junto-me a uma fila para obter o visto para de seguida entrar noutra fila para carimbar a entrada no passaporte. Esta fronteira é diariamente cruzada por sírios, jordanos, árabes de países vizinhos e muitos viajantes estrangeiros, tornando-a numa das mais movimentadas do Médio Oriente.

Visito Jerash no dia que chego à Jordânia. Sempre tive a curiosidade de visitar as ruínas desta que foi no tempo dos romanos, a cidade de Gerasa. Está um calor infernal (o termómetro, marca 42 graus), apesar de começar a explorá-la, por volta da 16:30. As ruínas estão muito bem preservadas e o facto de a visitar muito perto do por do sol dá um colorido especial a este passeio. Impressiona-me a grandiosidade do local, apesar dos historiadores estimarem que 90% da antiga cidade, está ainda por desenterrar. Gosto muito do hipódromo, local que recebia corridas de quadrigas observadas por cerca de 15000 espectadores, mais do que a assistência média da maioria dos estádios do campeonato português de futebol. Uma das mais distintas imagens de Jerash é a praça oval (forum) com cerca de 90 metros de comprimento e 80 de largura. A grandiosidade desta praça mostra-nos que a cidade era muito populosa, rondando os 150000 habitantes, de acordo com os historiadores. Outra imagem que guardarei na memória é a estrada de 800 metros, ladeada por inúmeras colunas minuciosamente ornamentadas, que ligava a praça Oval à entrada norte, tornando-a na principal artéria da cidade.










No segundo dia na Jordânia faço uma excursão por alguns locais próximos de Amã. Começo o dia por Madaba, uma povoação 50 Km a sul da capital, conhecida pelo esplêndido mapa mosaico descoberto, no solo, da igreja ortodoxa de São Jorge e datado do ano de 560 depois de Cristo. Claramente visível no mapa aparece a igreja do Santo Sepulcro em Jerusalém, o Mar Morto, o rio Jordão, Jericó, Nablus, Hebron, o rio Nilo e o sul do Líbano. Sigo para o Monte Nebo, onde se diz que Moisés, depois de ter avistado a terra prometida, faleceu com a idade de 120 anos, e aqui foi enterrado. No local foi erguida uma igreja em sua homenagem que à data da minha visita estava a sofrer obras de recuperação, Contornado a igreja pode, em dias sem neblina, avistar-se Jericó e Jerusalém. Como visito o local perto do meio-dia não vejo mais do que uma espessa mancha nebulosa. A paragem seguinte é o local onde supostamente Jesus Cristo foi baptizado por João Batista, nas margens do rio Jordão. Este sítio, conhecido entre os árabes como Al-Maghatas e autenticado por João Paulo II, é um local de grande peregrinação cristã. Sou conduzido por um guia que fala um inglês indecifrável e que não deixa entender o que fosse das suas palavras, confirma-me Ariene, uma londrina que não entende patavina. O local está preenchido por algumas igrejas mas é o sítio onde Jesus Cristo foi baptizada que suscita maior interesse entre os visitantes. Termino a visita no Mar Morto, ou seja, no ponto mais baixo da Terra (419 metros abaixo do nível médio das águas do mar) e que devido à sua alta salinidade nenhum ser vivo, excepto alguns de tamanho microscópio, consegue lá viver. Gosto da experiência de flutuar, de querer mergulhar e vir de imediato à tona, mas as pequenas gotículas de água que discretamente entram boca adentro dão um mau sabor que não se quer repetir. A quantidade de sal é tão grande que se diz que é 6 vezes mais salgada que as do mares normais.


Visito finalmente Petra, um local que faz parte do meu imaginário. Esta espectacular cidade de cor avermelhada foi construída no século terceiro depois de Cristo, pelos Nabateus que esculpiram nas rochas circundantes palácios, templos, túmulos, armazéns e estábulos. Daqui os Nabateus, controlaram as rotas comerciais de especiarias, seda e escravos entre Damasco e a península arábica, as quais estavam sujeitas a taxas para prosseguirem caminho. No entanto, os arqueologistas acreditam que devido a um grande terramoto, ocorrido em 555 depois de Cristo, os habitantes foram forçados a abandonar a cidade, tendo-se fixado em Bosra no sul da agora Síria e local também por mim visitado. Caminho por Petra em mais um dia de grande calor (no verão, nestas paragens, estão entre 35 e 45 graus), que não me impossibilita de visitar todos os sítios que tinha programado, num passeio de 7 horas e meia. Destaco o famoso Siq, a entrada secreta de Petra de 1,2 Km e formada pelo movimento de placas tectónicas. O serpentear pelo estreito caminho do Siq leva-nos a um dos monumentos mais bonitos de Petra, o Al-Khazneh que funcionava sobretudo como túmulo. Outro dos sítios mais procurados em Petra pelos imensos turistas, das mais variadas, nacionalidades, que não se importam de “desidratar”, são os Túmulos Reais. Estes monumentos encontram-se entre os mais belos esculpidos da cidade e antes da sua erosão rivalizavam com o Al-Khazneh, em beleza e grandiosidade. Mas para onde toda a gente se dirige é para o Mosteiro Ad-Deir. Como está muito calor decido fazer a subida, muito devagar, associando o movimento lento da subida dos degraus, esculpidos na rocha, com o apreciar da paisagem envolvente. Passada uma hora lá chego ao mosteiro que devido ao aproximar do por do sol, emana uma luz avermelhada inigualável. Passo então à fase seguinte, observar a paisagem do topo de duas falésias que proporcionam vistas imemoráveis. Uma delas fica mesmo ao lado do mosteiro e aproveito para retemperar energias para o alcançar do cume seguinte. A vista é deslumbrante, a leve brisa e o silêncio envolvente, dão-me razões mais do que suficientes para continuar na incessante procura de lugares imaginários. Procuro pela entrada de acesso ao outro cume já muito perto da entrada. “Custa-me” mais uma vez um esforço físico de quase uma hora, que vai sendo compensado em conversas com comerciantes beduínos e vista maravilhosas. Chegado ao cume fico a apreciar o por do sol e a ver como ele, num passo de magia, pinta dum avermelhado bordeaux, a cidade de Petra.










Reservo o meu último dia na Jordânia para experimentar o deserto. Apanho o autocarro de Petra para Wadi Rum. Os passageiros, só turistas, acabariam por ser os meus colegas de viagem nessa primeira experiência no deserto para todos. Desse grupo para além, de moi meme, fazem parte 6 sul-coreanos, 2 japoneses, um casal de franceses e outro do Quebeque e um alemão. O passeio de jeep começa com uma paragem na nascente de água mineral de Laurence. É incrível apercebermo-nos, que mesmo debaixo de quase 45 graus, a água brota da montanha muito fresca. Percorremos de seguida um pequeno canyon formado pelas águas da chuva - num processo de vários milhares de anos, que possui a curiosidade de possuir gravuras, esculpidas na rocha, de caravanas de camelos nas suas rotas comerciais. Este deserto não é aquele que imaginamos com extensas massas de areia. Pelo contrário, trata-se de uma zona muito rochosa salpicado aqui e ali por algumas dunas. Paramos num espectacular arco natural (Burdah) esculpido na rocha que proporciona uma vista maravilhosa e a todos momentos de enorme satisfação. Ao fim de um passeio pelo deserto de Wadi Rum chegamos ao acampamento onde vamos pernoitar e experimentar comida típica beduína. Depois de termos assistido a um maravilhoso por do sol, somos chamados para o jantar, uma deliciosa comida beduína muito à base de especiarias. O céu está completamente estrelado, e junto-me a dois casais espanhóis que entretanto se juntaram ao nosso grupo na hora de jantar, para aprender um pouco de astronomia. Um deles, astrónomo, lá nos explica o que vemos. Explica-nos como encontrar Marte, a Estrela Polar e a Via Láctea. As tendas estão quentes e por essa razão decido deitar-me ao relento e apreciar o céu. Os restantes seguem-me e dispomo-nos uns perto dos outros mais parecendo um jogo de dominó. Como estou cansado deixo-me dormir rápido e uma vez que tinha observado o por do sol também queria vislumbrar, o nascer. E é isso que faço. Sou o primeiro a levantar-me, às 05:30 e desloco-me de imediato para o topo de um pequeno rochedo onde está montado o acampamento. Ainda está de noite e fico cerca de uma hora, calmamente no meio dum silencio ensurdecedor à espera das imagens espectaculares que o nascer do sol me vai proporcionando.

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