Viagem 2010 - Beirute

Em Beirute, sinto-me um poliglota. Comunico nas três línguas em que me desenrasco. Divido o quarto do Hotel Al-Shahbaa, com um espanhol, um casal de franceses e um austríaco (que fala inglês). Ao contrário do que pensava, há afinal alguns turistas ocidentais por estas paragens, sobretudo francófonos e anglo-saxónicos. Não são tantos como em Istambul, mas muitos mais virão quando esta zona deixar de estar associada a guerras e problemas religiosos. Pelo que me apercebi, as pessoas são simpáticas, procuram ajudar os visitantes, que como eu, não entendem alfabeto árabe. As religiões convivem de forma harmoniosa, misturando-se mesquitas e igrejas na paisagem arquitectónica da cidade. Caminho pelas ruas sem receios de alguém me poder fazer mal, como por vezes acontece nas ruas de Lisboa ou de outras grandes cidades da Europa. Sinto-me bem, num processo de adaptação à língua, costumes, religião e ao tempo quente que se faz sentir.
Beirute é uma cidade que não possui muitos locais de interesse turístico. É sobretudo uma cidade virada para o mundo dos negócios. Já foi considerada a Suíça do Médio Oriente, devido sobretudo, aos negócios bancários, informa-me o meu colega de quarto, o espanhol, César Alvarez. Passeio-me pelas principais ruas e cruzo-me com potentes carros com matrículas de variadíssimos países desta região, passo junto a enormes edifícios de escritórios de firmas nacionais e internacionais, deparo-me com anúncios de apartamentos luxuosos com áreas que vão dos 220 aos 550 metros quadrados. Questiono-me onde estará a crise? Procuro envolver-me nos Souqs da cidade, quando me espanto ao ver que, em Beirute, estes espaços nada têm a ver com os tradicionais mercados árabes mas sim com os nosso bem conhecidos, centros comerciais, com lojas como a Zara, Mango ou Maximo Dutti.
Os poucos locais de interesse turístico resumem-se ao centro da cidade. Saio do hotel e poucos minutos de caminhada depois, deparo-me com uma enorme mesquita (Maomé al-Amim), de aspecto recente, parecendo mesmo uma construção de plástico, mas simultaneamente muito bonita e imponente. Desde que visitei a primeira mesquita em Sarajevo, fiquei com um fascínio especial por estes lugares de culto. Coloco a parte de baixo das calças e descalço-me para poder entrar sem ferir os costumes muçulmanos, sento-me e fico a apreciar a sua simplicidade O chão está todo coberto por uma linda carpete, não existem bancos, como nas igrejas e o ambiente sereno ajuda-me a retemperar energias. Observo atentamente alguns muçulmanos que ali se dirigiram para rezar. Viram-se para o Mihrab, que não é mais do que um género de câmara que nas mesquitas indicam a direcção para Meca. Mesmo ao lado encontra-se o Mimbar que na mesquita corresponde à função do púlpito nas igrejas.
Sigo para o coração da cidade, a Praça da Estrela, onde se situa o edifício parlamentar. As ruas que a envolvem estão todas cortadas ao trânsito e fortemente policiadas devido a recentes ameaças de terrorismo e assassinatos políticos. Ao fim da tarde, as ruas enchem-se de transeuntes misturando-se homens e mulheres vestidos com trajes tradicionais com outros que se aperaltam com roupas de marcas que estamos acostumados a ver. As esplanadas estão cheias e aprecio os clientes a fumar Shishah entre conversas de âmbito mais formal e outras de teor mais animado. Desperta-me a atenção uma mesquita com uma arquitectura diferente. Trata-se da mesquita de al-Omari. Na verdade, tratava-se da igreja de São João Batista, construída no século XII, pelos cruzados e convertida pelos Mameluques numa, mesquita em 1291. Uma vez mais entro para apreciar o seu interior e fico sem pressa a escutar um jovem a recitar versos do Alcorão numa melodia que cativa os mais desatentos.
Não parto de Beirute sem caminhar junto ao mediterrâneo. A cidade possui um longo passeio marítimo, onde as pessoas andam descontraidamente, praticam exercício físico (jogging), pescam ou simplesmente relaxam na praia. Na verdade, não existem praias de areia e as poucas que existem são artificias. São praias privadas e cobertas, junto ao passeio, por uma lona que impede que se vislumbre o seu interior. Está muito calor, apesar de correr uma leve brisa. Mas como tenho todo o tempo do mundo, percorro o quase 4 Km de extensão, na esperança de alcançar os “Pombos”, rochas naturais a beira-mar plantadas com a forma de uma arco e que fazem as delícias dos turistas ocidentais mas também árabes. Encontro um pequeno mercado e pergunto por pão (khubz), pensando que encontraria algo parecido ao que estamos acostumados. O senhor entrega-me o pão tradicional desta região de configuração circular a fazer lembrar as bases das pizas.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Viagem 2010 - Alguns locais da Jordânia

Viagens Sem Fronteiras

Viagem 2010 - Istambul