Rússia. Sampetersburgo e Moscovo

Esta Rússia imensa que se estende da Europa ao Extremo Oriente tem em Sampetersburgo e Moscovo as cidades mais importantes. Sampetersburgo é imperial. É dimensionalmente grande. Um regalo para os olhos. A sua principal avenida - a Nevski Prospekt, de 4 Km de comprimento -faz inveja a qualquer avenida da Europa Ocidental. Aqui se encontram os principais monumentos, lojas de roupa e restauração de marcas internacionais, esplanadas completamente cheias e muita, muita gente a passear-se nesta que mais parece uma “passarela”. Num dos extremos da avenida encontra-se provavelmente aquele que é o edifício mais conhecido da cidade – o Palácio de Inverno onde se encontra a funcionar o museu Hermitage. De de tão grande que é, precisa-se de pelo menos um dia, para visitá-lo. De tamanho igual são as filas para entrar que desencoraja qualquer um, que tem apenas 2 dias para visitar a cidade.


O edifício, residência dos antigos Czares da Rússia, situa-se numa das extremidades da Praça do Palácio, a maior da cidade – seriam precisos, 10 campos de futebol para preenche-la. Um ser humano sente-se uma formiguinha, tal é a sua dimensão. As entradas ao interior de cada monumento são pagas a “peso de ouro” (entre 6 e 10 euros), coisa que para um mochileiro como eu, se torna proibitiva, já que este burgo possui cerca de uma dezena de locais de interesse turístico. Mesmo assim vale a pena o passeio pela cidade, quanto mais não seja para visitar a catedral de São Isaac, que de tão grande suporta a capacidade de albergar cerca de 10000 pessoas.


Aquele que mais gostei, foi sem dúvida alguma, a catedral da Ressurreição de Cristo. Foi inaugurada em 1907 em homenagem ao Imperador Alexandre II, no preciso local onde ocorreu um atentado terrorista que levaria à sua morte. As suas cúpulas em ouro e completamente ornamentadas são símbolo da igreja ortodoxa. Algumas práticas, divergem um pouco do catolicismo começando com a veneração apenas a Jesus Cristo e Nossa Senhora. Os crentes aquando da celebrações dominicais, benzam-se 3 vezes, fazendo um gesto continuo de cima para baixo e da direita para a esquerda, inclinado o tronco à frente. As senhoras não entram na igreja sem colocar um lenço sobre a cabeça e o pároco oferece a hóstia com uma colher de boca em boca, coadjuvado por um sacristão que limpa de seguida com uma toalha que não é trocada. Nada higiénico, sobretudo, nos dias de hoje, com aumento diário dos casos de gripe A.


A cidade construída sobre o delta do Neva, dividida por dezenas de pequenos rios e canais é muitas vezes denominada como a “Veneza de Leste. Uma viagem pelos seus canais dá-nos uma perspectiva arquitectónica diferente, mas a sua beleza deixa muito a desejar. Na minha opinião, apenas dois são dignos de registo: O canal de Inverno e o dos Cisnes. Muitos são os noivos que como lembrança do dia mais importante das suas vidas se deslocam a este canais para aí registarem esse momento. Imaginar-se-ia que com tanta espectacularidade monumental, também as inúmeras pontes que ligam as diferentes margens seriam igualmente belas. Desenganem-se os mais curiosos, pois aquela que mais chama a atenção é a ponte Bankovski – os cabos de 25 metros são suportados por 4 cavalos alados de asas banhadas a ouro. A ponte não é grande, mas não deixa de atrair muito turistas.


Numa das margens do Neva encontra-se o Forte de Pedro e Paulo – datado de 1703 e o mais antigo da cidade -, foi mandado construir por Alexandre o Grande para defesa contra as ofensivas suecas. Contudo, nunca serviu os seu intentos e até 1917 foi utilizado como prisão política. A sua principal atracção é a catedral de Pedro e Paulo decorada internamente em estilo barroco. Todos os dias ao meio-dia um disparo de canhão entoa todos os recantos do forte assustando todos os visitantes, mesmo os mais informados. Outra experiência gratificante passa por viajar de metro. À semelhança de Moscovo, é também, debaixo de terra que se encontram verdadeiras maravilhas arquitectónicas. Aquela que maior impacto cria é a da estação de Dostovskaia, lembrando mais um Lobby de qualquer hotel de 5 estrelas do que uma estação subterrânea. Uma visita ao Metro está cada vez mais nos roteiros turísticos da cidade.


Embarco no comboio nocturno – o expresso “Smena” com destino a Moscovo. As 8 horas que me separam da capital são passadas a dormir num compartimento com 4 camas e muito boas condições de higiene. As 10 ligações diárias entre as duas cidades circulam praticamente lotadas, sendo por isso necessário reservar o bilhete com antecedência. Viajar na Rússia de comboio é barato, e confortável e por isso, este é o meio de transporte de eleição dos russos, mesmo dos mais endinheirados. (há comboios até 4ª classe). Chego às 08:00 e instalo-me no “Napoleon Hostel no bairro Kitai Gorod, o mais antigo de Moscovo. Foi edificado no século XII para servir como centro de comércio e finança. O Hostel fica no 4º andar de um prédio velho, cheio de lixo amontoado no chão dificultando a passagem. Mas foi por ser Domingo. Houve uma festa no dia anterior num dos apartamentos e a equipa de limpeza só passou Segunda-Feira de Madrugada.


Moscovo é algo diferente. Vê-se no rosto dos transeuntes que está dividida entre a Europa e o Oriente. E não tem toda a monumentalidade da sua parceira báltica. Aqui os locais de interesse turísticos resumem-se a uma mão cheia. Contudo não deixam de ser imponentes. Fico maravilhado no meio da enorme Praça Vermelha (700m de comprimento por 130m de largura). O seu nome não tem, ao contrário do que pode pensar, a ver com o comunismo ou com sangue. Em russo antigo significava “Bonita”. E na verdade é o que eu sinto, uma imensa felicidade por estar rodeado de monumentos tão belos – catedral de São Basílio, museu nacional de História, Kremlin e mausoléu de Lenin. A Praça servia de cenário, nos tempos do comunismo para desfiles militares, exaltando o poder militar soviético. Aliás, das poucas imagens que tenho da então União Soviética e aquelas que serviam de propaganda política, são as desta Praça. Não foram desfraldadas as minha expectativas.


Conheço o Paul um norte-americano de 50 anos de idade, solitário viajante como eu e com os mesmos interesses: beber da cultura e da história dos países que se visita e ao mesmo tempo “have fun”. Visitamos o Kremlin, que em russo significa fortaleza. O conhecimento de Paul sobre história europeia é diminuta. Não é para estranhar num país em “grande parte dos habitantes não sabe o nome do navegador que descobriu a América,” comenta um neozelandês meu “room-mate”. Fortemente policiada e direccionando os turistas para aquilo que apenas é permitido visitar, esta fortaleza de quase 30 hectares, tem mais fama do que proveito, de acordo com a minha modesta opinião. Impressiona-me a Torre do Salvador a estrutura mais alta do Kremlin, o Palácio Governamental, onde czaristas, comunistas e democratas têm tomado decisões (boas e más) sobre o futuro da nação, a Igreja da Deposição do Robe, pela sua singularidades e os belos jardins cobertos por arranjos florais de rara beleza.


Quando visito uma cidade procuro fugir um pouco aos percursos sugeridos pelos postos de turismo. Eles sugerem-nos o que querem que vejamos. Deixo-me envolver pela a arquitectura dos locais, olhando-a atentamente, repouso em bancos de jardins observando hábitos e costumes, e neste caso, tentando descortinar o significado de sons e letras que não possuímos, mas que caracterizam o alfabeto cirílico. Caminho por entre muitos jardins todos cuidadosamente arranjados como se nós, comuns mortais, estivéssemos preparados para uma cerimónia importante. Esse é aliás um dos motivos que leva centenas de pessoas a passearem-se por eles. Mas também procuro seguir sugestões dadas e a visita à rua Arbat – um verdadeiro mercado de arte a céu aberto -, proporcionou-me apreciar a sensibilidade de pintores de retratos instantâneos, malabaristas e músicos ambulantes, num passeio muito agradável.


Espero numa fila duns bons 500 ou 600 metros para visitar o mausoléu de Lenin. Alegro-me por ser o primeiro, não por ter algum gosto especial por ver um corpo embalsamado mas, simplesmente, por não gostar de perder tempo em bichas. Impressiona-me ver o corpo no centro do sarcófago, severamente guardado por 4 polícias pressionando-nos a andar mais depressa. O corpo nem parece que foi embalsamado há 85 anos tal é a clareza e a nitidez de todos os traços da face e mãos do ex-líder comunista – únicas partes do corpo a descoberto. A catedral de São Basílio, construída entre 1555 e 1561, é talvez o maior cartão de visita da Rússia. Quem não associa esta imagem a Moscovo? Os visitantes ficam hipnotizados com a “confusão” de cores vivas e fortes, que vistas do céu se parecem a um arco-íris redondo. No seu interior, mantendo a diversidade de cores, destaca-se as paredes cuidadosa e perfeitamente ornamentadas com imagens de Jesus Cristo, Maria e figuras relevantes da igreja ortodoxa.

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